Há muito tempo atrás, existia um país que tinha a forma de um triângulo.
No alto do triângulo moravam poucas crianças.
Meninos e meninas que moravam em prédios muito altos, tão altos que pareciam alcançar o céu.
Essas crianças comiam coisas muito gostosas:
chocolates, frutas, leite, pipocas e outras guloseimas. Vestiam-se muito bem. Sempre que queriam, iam ao cinema e ao teatro. Frequentavam clubes com piscinas, gira-gira e escorregador. Tinham muitos brinquedos: bicicletas, bonecas, quebra-cabeças, robôs.
Na base do triângulo moravam muitas, muitas e muitas crianças.
Meninos e meninas que não tinham carros, nem brinquedos, nem chocolates, nem iam a clubes e nem a cinema. Elas precisavam trabalhar ao invés de brincar.
Nesse país com forma de triângulo, existiam ruas repletas de carros e faróis.Quando os faróis ficavam vermelhos, os carros paravam um atrás do outro e as crianças iam vender limões, balas, flores e frutas. Era difícil a vida desses pequeninos. O dia inteiro de pé, indo de carro em carro e dizendo: "Compra moça, só para me ajudar." No final do dia, ganhavam um dinheirinho e davam para sua mãe comprar comida..
Então, no alto do triângulo, tinha poucas crianças e na base tinha muitas crianças.
No pico do triângulo, numa rua repleta de árvores, existia um prédio, e de longe, se via uma janelinha nesse prédio, onde moravam dois irmãos: Marcelo e Gabi.
Lá dentro tinham muitos brinquedos, mas vários ficavam encostados na estante.
Um dia, os dois entraram no quarto e encontraram os brinquedos reclamando:
- Puxa, faz um tempão que estou parado nesta estante - choramingou o tamanduá laranja com bolas verdes.
- Minha dona só pega no colo a nenê Joana. Eu também quero ganhar comidinha, passear, tomar banho - reivindicaram as bonecas numa só voz.
Os quebra-cabeças, que são muito inteligentes, divulgaram suas ideias:
- Se fôssemos encontrar as crianças que não tem brinquedos?
- Aquelas que ficam na base do triângulo? - perguntou o pirata, apontando sua espada para baixo.
- Isso mesmo! - afirmaram os blocos de construir castelos.
Ao ouvir os brinquedos, as crianças disseram:
- Nós também queremos ir.
- Como vamos fazer para chegar lá? - perguntou a bola azul, rolando pra lá e pra cá.
- Eu posso levar vocês - falou o grande avião de madeira.
- Oba! Viva! Então vamos! - disseram todos juntos.
Subiram no avião e começaram a voar. Voaram, voaram e finalmente chegaram.
Olharam em volta e acharam tudo muito triste.
De repente, eles ouviram:
- Não acredito, estou vendo um avião cheio de brinquedos - era Rodrigo, feliz da vida, correndo ao encontro dos brinquedos.
- Acho que estou sonhando! - gritou Maria, indo atrás do irmão.
-Como vocês são lindos! Tem bola para jogar futebol, carros, pirata, palhaço! Puxa eu nunca vi tantos brinquedos! -exclamou Rodrigo, maravilhado.
-Olha, Rodrigo, tem um menino e uma menina dentro do avião. Quem são vocês? -perguntou Maria.
-Meu nome é Gabriela, mas todos me chamam de Gabi, e você?
-Sou a Maria.
-E eu o Marcelo.
-Me chamo Rodrigo. O que vocês vieram fazer aqui?
O palhacinho chegou mais perto do Rodrigo e disse:
-Nós ficavamos encostados na estante de brinquedos sem ter com quem brincar.
-Então vocês resolveram vir brincar conosco? - indagou Rodrigo.
-É isso mesmo! - falou o palhaço.
-Puxa, que bom! Eu posso pegar aquela boneca? - indagou Maria.
-A Tatiana? Pode sim, ela é muito carinhosa - respondeu Gabi.
E os brinquedos começaram a descer do avião.
-Esperem, - disse Rodrigo - vou chamar meus amigos.
Rodrigo saiu correndo, gritando o nome de seus amigos e apareceram todos com um lindo sorriso nos lábios, muito alegres.
Naquele dia, as crianças não foram para o trânsito, ficaram brincando: jogaram bola, montaram quebra-cabeças apostaram corrida com carros, brincaram de "casinha" e construíram castelos com blocos de madeira.
Já estava ficando tarde e era hora de ir embora. Marcelo começou a chorar e disse:
-Como é triste não ter brinquedos e não poder brincar.
Marcelo parou de chorar e falou:
-Nós vamos todas as tardes para a escola, nossos brinquedos poderiam vir visitá-los nesse horário.
-Não adianta - falou Rodrigo, tristonho. - Nós temos que trabalhar.
-Precisamos fazer alguma coisa para mudar esta situação! - exclamou o pirata.
-Temos que lutar, nos unir! - confirmou o dominó.
-Exigiremos brinquedos e horário para brincar - sugeriram os quebra-cabeças.
- Transformaremos o triângulo! - gritou o tambor.
- Que triângulo? - perguntou Maria,espantada.
- As crianças que moram na base do triângulo têm o direito de viver como as crianças que estão no topo do triângulo.
- Como assim? - perguntou Rodrigo.
- Venham conosco e vocês verão - convidou o avião.
Todos entraram no avião e começaram a subir, subir, subir.
Rodrigo e Maria começaram a notar as diferenças: crianças bem vestidas, morando gostosamente, brincando o tempo todo. Maria tinha pedido tanto para o Papai Noel lhe trazer uma bicicleta, no Natal. A bicicleta não chegara. Quem sabe no ano que vem, mas Maria sabia que a bicicleta não viria, e com muita raiva, gritou:
- Eu não quero mais vender limões nas ruas, eu quero poder brincar!
O coelhinho esticou suas orelhas, levantou sua cenoura e disse:
- Criança nasceu para brincar!
- É isso mesmo! Amanhã mesmo, vamos contar tudo aos nossos amigos e transformaremos o triângulo! - afirmou Rodrigo.
- Todos juntos teremos bastante força - disse Maria.
- E eu vou avisar os brinquedos que estão encostados nas estantes, para nos ajudar - disse o avião. - Bem, já é tarde, preciso levá-los de volta.
Entraram no avião e na viagem pararam numa janelinha, onde viram crianças assistindo TV e gritando:
- Papai, compra o Snoopy para mim!
- Mamãe, eu quero a boneca que bate palminhas.
E notaram um ursinho de pelúcia conversando com uma boneca de pano:
- Será que vem mais gente para cá? Não tem mais lugar.
Assistindo àquela cena, Maria pensou: "Eles têm tantos brinquedos e ainda querem mais."
E continuaram voando, voando e voando. Chegaram na favela e se despediram do avião contentes com o apoio que os brinquedos dariam na luta para transformar o triângulo.
No dia seguinte, Rodrigo e Maria contaram tudo aos seus amigos, que foram contar a outros amigos...
Corajosos, todos juntos decidiram sair às ruas gritando:
-"SOMOS CRIANÇAS, QUEREMOS BRINCAR!"
Cada criança que os ouvia e os via ia se juntando a eles.
Enquanto isso, o avião voava e deixava bilhetes em todas as janelinhas: VOCÊS ESTÃO ENCOSTADOS NAS ESTANTES, VENHAM À BASE DO TRIÂNGULO E AJUDEM A TRANSFORMÁ-LO PARA QUE TODOS POSSAM BRINCAR.
Os brinquedos iam lendo e saindo das prateleiras e baús para as calçadas.
E se encontraram, crianças e brinquedos. E juntos começaram a empurrar o triângulo. Uma turma empurrava de um lado, outra do outro e cada vez subindo mais e mais.
O TRIÂNGULO começou a se transformar com o empurra-empurra. Virou um CÍRCULO, um grande círculo cor de laranja, como um enorme sol. Todos contentes, exclamavam: "Conseguimos! Viva! Agora TODAS AS CRIANÇAS PODEM BRINCAR!"
Marcelo, Maria, Rodrigo e Gabi, todas as crianças e todos os brinquedos estavam radiantes!
Eles venceram! E agora, o que eles farão?
Que pergunta mais boba, ora, vão brincar.
Esperem, a história ainda não acabou, Marcelo teve uma ideia, ele quer construir uma comunidade para os brinquedos.
- Como assim? - indagou Gabi.
- Eu vou explicar melhor: existem bibliotecas para os livros, não é?
- É, e daí? - indagou Rodrigo.
- Nós faremos brincotecas! - afirmou Marcelo.
- Brincotecas, o que seria isso?
- Seriam casas enormes, repletas de brinquedos, onde todas as crianças poderiam retirar brinquedos e levá-los para casa, ficando com eles dois ou três dias.
E ninguém mais pagaria nada!
- Puxa, que boa ideia!
E assim todas as crianças naquele país puderam brincar e viveram felizes para sempre, com um monte de brincotecas.
Livro - AS BRINCOTECAS: NAAVA BASSI( formada em pedagogia pela PUC de São Paulo e se especializou em Orientação Educacional e Psicologia da Educação)
Ilustrações: TERÊ(Terezinha Marques de Oliveira)
Nenhum comentário:
Postar um comentário