O Mundo em Suas Mãos

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quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

BRINCAR, ESTUDAR, VIVER...TRABALHAR SÓ QUANDO CRESCER.


Há muito tempo atrás, existia um país que tinha a forma de um triângulo.
    No alto do triângulo moravam poucas crianças.
    Meninos e meninas que moravam em prédios muito altos, tão altos que pareciam alcançar o céu.
    Essas crianças comiam coisas muito gostosas:
chocolates, frutas, leite, pipocas e outras guloseimas. Vestiam-se muito bem. Sempre que queriam, iam ao cinema e ao teatro. Frequentavam clubes com piscinas, gira-gira e escorregador. Tinham muitos brinquedos: bicicletas, bonecas, quebra-cabeças, robôs.
        Na base do triângulo moravam muitas, muitas e muitas crianças.
        Meninos e meninas que não tinham carros, nem brinquedos, nem chocolates, nem iam a clubes e nem a cinema. Elas precisavam trabalhar ao invés de brincar.
        Nesse país com forma de triângulo, existiam ruas repletas de carros e faróis.Quando os faróis ficavam vermelhos, os carros paravam um atrás do outro e as crianças iam vender limões, balas, flores e frutas. Era difícil a vida desses pequeninos. O dia inteiro de pé, indo de carro em carro e dizendo: "Compra moça, só para me ajudar." No final do dia, ganhavam um dinheirinho e davam para sua mãe comprar comida..
        Então, no alto do triângulo, tinha poucas crianças e na base tinha muitas crianças.
        No pico do triângulo, numa rua repleta de árvores, existia um prédio, e de longe, se via uma janelinha nesse prédio, onde moravam dois irmãos: Marcelo e Gabi.
        Lá dentro tinham muitos brinquedos, mas vários ficavam encostados na estante.
        Um dia, os dois entraram no quarto e encontraram os brinquedos reclamando:
        - Puxa, faz um tempão que estou parado nesta estante - choramingou o tamanduá laranja com bolas verdes.
        - Minha dona só pega no colo a nenê Joana. Eu também quero ganhar comidinha, passear, tomar banho - reivindicaram as bonecas numa só voz.
        Os quebra-cabeças, que são muito inteligentes, divulgaram suas ideias:
         - Se fôssemos encontrar as crianças que não tem brinquedos?
         - Aquelas que ficam na base do triângulo? - perguntou o pirata, apontando sua espada para baixo.
         - Isso mesmo! - afirmaram os blocos de construir castelos. 
         Ao ouvir os brinquedos, as crianças disseram:
        - Nós também queremos ir.
        
        
       
        - Como vamos fazer para chegar lá? - perguntou a bola azul, rolando pra lá e pra cá.
        - Eu posso levar vocês - falou o grande avião de madeira.
        - Oba! Viva! Então vamos! - disseram todos juntos.
        Subiram no avião e começaram a voar. Voaram, voaram e finalmente chegaram.
        Olharam em volta e acharam tudo muito triste.
        Casas de madeira, uma encostada na outra, pequenas, sem vidro nas janelas, sem asfalto, era tudo marrom. Viram crianças sem sapato, com roupas rasgadas.
        De repente, eles ouviram:
        - Não acredito, estou vendo um avião cheio de brinquedos - era Rodrigo, feliz da vida, correndo ao encontro dos brinquedos.
        - Acho que estou sonhando! - gritou Maria, indo atrás do irmão.

        -Como vocês são lindos! Tem bola para jogar futebol, carros, pirata, palhaço! Puxa eu nunca vi tantos brinquedos! -exclamou Rodrigo, maravilhado.
        -Olha, Rodrigo, tem um menino e uma menina dentro do avião. Quem são vocês? -perguntou Maria.
        -Meu nome é Gabriela, mas todos me chamam de Gabi, e você?
        -Sou a Maria.
        -E eu o Marcelo.
        -Me chamo Rodrigo. O que vocês vieram fazer aqui?
        O palhacinho chegou mais perto do Rodrigo e disse:
         -Nós ficavamos encostados na estante de brinquedos sem ter com quem brincar.
         -Então vocês resolveram vir brincar conosco? - indagou Rodrigo.
         -É isso mesmo! - falou o palhaço.
        -Puxa, que bom! Eu posso pegar aquela boneca? - indagou Maria.
        -A Tatiana? Pode sim, ela é muito carinhosa - respondeu Gabi.
        E os brinquedos começaram a descer do avião.
        -Esperem, - disse Rodrigo - vou chamar meus amigos.
        Rodrigo saiu correndo, gritando o nome de seus amigos e apareceram todos com um lindo sorriso nos lábios, muito alegres.
        Naquele dia, as crianças não foram para o trânsito, ficaram brincando: jogaram bola, montaram quebra-cabeças apostaram corrida com carros, brincaram de "casinha" e construíram castelos com blocos de madeira.
        Já estava ficando tarde e era hora de ir embora. Marcelo começou a chorar e disse:
        -Como é triste não ter brinquedos e não poder brincar.
        Marcelo parou de chorar e falou:
        -Nós vamos todas as tardes para a escola, nossos brinquedos poderiam vir visitá-los nesse horário.
        -Não adianta - falou Rodrigo, tristonho. - Nós temos que trabalhar.
        -Precisamos fazer alguma coisa para mudar esta situação! - exclamou o pirata.
        -Temos que lutar, nos unir! - confirmou o dominó.
        -Exigiremos brinquedos e horário para brincar - sugeriram os quebra-cabeças.
        - Transformaremos o triângulo! - gritou o tambor.
        - Que triângulo? - perguntou Maria,espantada.
        - As crianças que moram na base do triângulo têm o direito de viver como as crianças que estão no topo do triângulo.
        - Como assim? - perguntou Rodrigo.
        - Venham conosco e vocês verão - convidou o avião.
        Todos entraram no avião e começaram a subir, subir, subir.
        Rodrigo e Maria começaram a notar as diferenças: crianças bem vestidas, morando gostosamente, brincando o tempo todo. Maria tinha pedido tanto para o Papai Noel lhe trazer uma bicicleta, no Natal. A bicicleta não chegara. Quem sabe no ano que vem, mas Maria sabia que a bicicleta não viria, e com muita raiva, gritou:
        - Eu não quero mais vender limões nas ruas, eu quero poder brincar!
        O coelhinho esticou suas orelhas, levantou sua cenoura e disse:
        - Criança nasceu para brincar!
        - É isso mesmo! Amanhã mesmo, vamos contar tudo aos nossos amigos e transformaremos o triângulo! - afirmou Rodrigo.
        - Todos juntos teremos bastante força - disse Maria.
        - E eu vou avisar os brinquedos que estão encostados nas estantes, para nos ajudar - disse o avião. - Bem, já é tarde, preciso levá-los de volta.
        Entraram no avião e na viagem pararam numa janelinha, onde viram crianças assistindo TV e gritando:
        - Papai, compra o Snoopy para mim!
        - Mamãe, eu quero a boneca que bate palminhas.
        E notaram um ursinho de pelúcia conversando com uma boneca de pano:
        - Será que vem mais gente para cá? Não tem mais lugar.
        Assistindo àquela cena, Maria pensou: "Eles têm tantos brinquedos e ainda querem mais."
        E continuaram voando, voando e voando. Chegaram na favela e se despediram do avião contentes com o apoio que os brinquedos dariam na luta para transformar o triângulo.
       No dia seguinte, Rodrigo e Maria contaram tudo aos seus amigos, que foram contar a outros amigos...
       Corajosos, todos juntos decidiram sair às ruas gritando:
       -"SOMOS CRIANÇAS, QUEREMOS BRINCAR!"
       Cada criança que os ouvia e os via ia se juntando a eles.
        Enquanto isso, o avião voava e deixava bilhetes em todas as janelinhas: VOCÊS ESTÃO ENCOSTADOS NAS ESTANTES, VENHAM À BASE DO TRIÂNGULO E AJUDEM A TRANSFORMÁ-LO PARA QUE TODOS POSSAM BRINCAR.
        Os brinquedos iam lendo e saindo das prateleiras e baús para as calçadas.
        E se encontraram, crianças e brinquedos. E juntos começaram a empurrar o triângulo. Uma turma empurrava de um lado, outra do outro e cada vez subindo mais e mais.
        O TRIÂNGULO começou a se transformar com o empurra-empurra. Virou um CÍRCULO, um grande círculo cor de laranja, como um enorme sol. Todos contentes, exclamavam: "Conseguimos! Viva! Agora TODAS AS CRIANÇAS PODEM BRINCAR!"
         Marcelo, Maria, Rodrigo e Gabi, todas as crianças e todos os brinquedos estavam radiantes!
         Eles venceram! E agora, o que eles farão?
         Que pergunta mais boba, ora, vão brincar.
         Esperem, a história ainda não acabou, Marcelo teve uma ideia, ele quer construir uma comunidade para os brinquedos.


        - Como assim? - indagou Gabi.
        - Eu vou explicar melhor: existem bibliotecas para os livros, não é?
        - É, e daí? - indagou Rodrigo.
        -  Nós faremos brincotecas! - afirmou Marcelo.
        -  Brincotecas, o que seria isso?
        - Seriam casas enormes, repletas de brinquedos, onde todas as crianças poderiam retirar brinquedos e levá-los para casa, ficando com eles dois ou três dias.
        E ninguém mais pagaria nada!
        - Puxa, que boa ideia!
        E assim todas as crianças naquele país puderam brincar e viveram felizes para sempre, com um monte de brincotecas.
Livro - AS BRINCOTECAS: NAAVA BASSI( formada em pedagogia pela PUC de São Paulo e se especializou em Orientação Educacional e Psicologia da Educação)
Ilustrações: TERÊ(Terezinha Marques de Oliveira)

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