O Mundo em Suas Mãos

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segunda-feira, 21 de abril de 2014

COLCHA DE RETALHOS E CIA











































 A COLCHA DE RETALHOS 


      Nos finais de semana, Felipe vai para a casa da vovó. É uma delícia! Vovó sabe fazer bolo de chocolate, brigadeiro, bala de coco, pão de queijo... enfim, sabe fazer tudo que Felipe gosta. E não tem esse negócio de "hora de comer isso, hora de comer aquilo... hora de brincar, hora de dormir..."

   Vovó sabe contar histórias como ninguém. 
   -Conta mais uma, vovó Só mais uma!
   Vovó coloca os óculos bem na ponta do nariz, uma cara engraçada e fala bem fininho e fraquinho, imitando a voz da Chapeuzinho Vermelho, e bem grosso e forte, imitando a voz do Lobo Mau. Ah! Quem é que não gosta de uma vovozinha assim?

    Um dia, quando Felipe chegou à casa da vovó, encontrou uma porção de pedaços de tecidos espalhados no chão, perto da máquina de costura onde ela estava trabalhando.
   - O que é isso, vovó?
   - São retalhos, Felipe. Fui juntando os pedaços de pano que sobravam das minhas costuras e, agora, já dá pra fazer uma colcha de retalhos. Vou começar  a emendá-los hoje mesmo.
   - Posso ajudar vovó?
   -Está bem. Então vá separando os retalhos para mim. Primeiro só os de bolinhas, depois os de listrinhas...



    Felipe esparramou tudo pelo chão e foi separando-os um a um. Tinha pano de florzinha, de lua e estrela, de bolinha grande e bolinha pequena, listrado e xadrez...
   - Olha esse pano listrado, é aquele do pijama que você fez para mim quando a gente passou aqueles dias no sítio, lembra?
   -É mesmo, Felipe, estou, me lembrando. Que férias gostosas! Andamos a cavalo, chupamos jabuticabeiras estavam carregadinhas!

    -E olha esse pano xadrez, que bonito vovó!
    -É daquela camisa que eu fiz para você dar ao seu pai,no dia do aniversário dele.Sua mãe fez um jantar gostoso e convidou todo mundo.
   -Ah! Eu me lembro! Veio o tio Paulo, o tio João, tia Josefina,veio a Cecília e até o Rex, para brincar com o meu cachorro Apolo. Parece que um deles fez xixi na cozinha e o outro fez cocô no quintal, né?
   -Seu pai ficou tão bonito! E assoprou as velinhas, todo vaidoso, de camisa nova.

    -É mesmo! Mas ficou muito bravo com o cachorros.
   -Olha,Felipe, esse retalho aqui. Não é daquele vestido que eu fiz para sua mãe ir ao casamento? Sabe, quando sua mãe era pequena eu fazia uma porção de vestidos para ela. E gostava também de bordá-los.Uma vez eu fiz um vestido cor-de-rosa, inteirinho bordado com a branca de neve e os sete anões. Quando o vestido ficou pronto, ela falou assim:
   -Ué, mamãe, está faltando a bruxa!
   -Vovó, esse pano azul-marinho está com a cara de Vó Maria.
   -Era dela mesmo!
   - Vovó Maria mora lá no céu, né? Junto com o vovô Luiz e o meu cachorrinho Apolo... Ué, vovó, você está chorando? O que aconteceu?
   -Não, disse a vovó fungando e limpando o nariz com o lenço - não estou chorando não.
   -Ah, vovó! Você não disse que nós somos amigos? Então, me conta o que está acontecendo. Você está triste?

   -É saudade, Felipe. É saudade...
   -Saudade dói, vovó?
   -Às vezes dói. Quando é saudade de alguém que já foi embora para nunca mais voltar...
   -Ah!
   -Mas existem outras saudades: de um passeio gostoso, de uma viagem, de uma festa, de um amigo, de uma amiga, de um parente que mora longe...
    -Vovó, acho que eu ainda não entendo bem nada de saudade.
    -Eu sei. A gente só entende bem das coisas que já experimentou. Talvez ainda seja muito cedo para você entender dessas coisas... Felipe, me ajuda aqui. Vamos ver como está ficando a nossa colcha de retalhos!
   -Que bonita, vovó! Um dia você faz uma para mim também!
Depois de algum tempo, Felipe nem se lembrava mais da colcha de retalhos. Um dia, ao voltar da escola...
-Felipe! A vovó mandou uma surpresa para você!
-Uma surpresa para mim? Onde?
-Está lá em cima da sua cama.



 
Felipe entrou no quarto correndo. A colcha estava esticada sobre a sua cama. Que linda! Mas não era uma colcha como essas que se vendem nas lojas. Cada retalho tinha uma história.
     Ali, deitado sobre a colcha, Felipe passou algum tempo lembrando-se de uma porção de histórias. Observou um retalho de brim azul...
    -Foi quando o papai e a mamãe viajaram de férias e eu fiquei lá na casa da vovó. Um dia fui subir na jabuticabeira e levei um tombo. Ralei o joelho, fiquei com o bumbum dolorido e o short rasgado... que vergonha!
Vovó veio correndo lá de dentro. Me pegou no colo com carinho e, depois, nesse mesmo dia, resolveu fazer um short novo para mim. 


E fez um short deste pano aqui,de brim azul.

   De repente, Felipe começou a sentir uma coisa estranha dentro do peito. E aquilo foi aumentando, aumentando... Felipe foi atrás de sua mãe:
     -Me leva na casa da vovó?
     Não demorou nada e os dois já estavam chegando lá na casa da vovó. Tocaram a campainha e ela veio lá de dentro.
    -Parece que eu estava adivinhando que você vinha. Fiz um bolo de chocolate, do jeito que você gosta!
    -Vovó, vem aqui pertinho. Agora, me dá um abraço bem gostoso!
    -Sabe, vovó... - cochichou Felipe, bem baixinho, no seu ouvido - preciso te contar um segredo: eu acho que já entendi... agora eu já sei o que saudade!

   Nesta história procuramos resgatar o valor das memórias que fazem parte da constituição da identidade de cada um.
   Através do relacionamento amoroso de uma avó com seu neto enfatizamos a importância da relação afetiva entre pessoas da mesma família, pois é aí a criança vai começar a aprender a AMAR e ser AMADA.

A COLCHA DE RETALHOS: Conceil Corrêa da Silva, Nye Ribeiro Silva
ILUSTRAÇÕES: Semíramis Paterno
           



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