O Mundo em Suas Mãos

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segunda-feira, 16 de março de 2015

De mãos dadas


“O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas”. (Mãos Dadas – Carlos Drummond de Andrade)
Relacionamentos são a base da vida em sociedade. Relacionamo-nos o tempo todo, em todos os ambientes que frequentamos. Como somos diferentes, temos reações diferentes nos diferentes momentos da nossa vida. Não somos previsíveis. Mesmo quando repetimos alguns comportamentos, estamos expostos a surpresas e não imaginamos como vamos agir. Nos momentos em que os problemas não parecem tão significativos, conseguimos caminhar sem grandes percalços. Mas quando surgem as adversidades, somos, muitas vezes, vítimas de desejos que não controlamos com tanta facilidade.
Muitos pais se preocupam com a inteligência dos seus filhos. Alguns têm conclusões apressadas, comparando irmãos. Julgando que um filho é mais inteligente do que o outro, porque tem mais facilidade para essa ou para aquela matéria, ou porque é capaz de memorizar textos, ou números, ou dados. Estudos recentes descartam essa métrica de definição de quem é mais ou menos inteligente. As inteligências são múltiplas. E os múltiplos momentos da vida é que oportunizam suas manifestações.
Há uma base de conteúdos que se imagina necessária com a qual cada aluno, em cada etapa da vida, deve trabalhar. Nas diversas profissões também é assim. Há instrumentos que nos permitem trabalhar nesse ou naquele campo. Um médico precisa desenvolver habilidades e competências que nos deem segurança para uma intervenção cirúrgica, por exemplo. E, para isso, estuda com esse foco. Um engenheiro dialoga com números e projetos, e plantas, e possibilidades, cotidianamente. Um artista estuda escolas de dramaturgia para que sua intuição se una a tantas técnicas no ofício de fazer nascer personagens e momentos. E assim se multiplicam as profissões e as suas exigências. Avalia-se o preparo para o trabalho. Mas há algo comum e necessário a qualquer atividade profissional e pessoal, a necessidade de nos relacionarmos.
Valores desenham a face humana que enxerga e é enxergada. Que fala e ouve. Que diz “sim” ou “não”; que escolhe, portanto. Que é capaz de gestos de generosidade e compreensão. No desenvolvimento do trabalho, o jogo da convivência é essencial. Um precisa do outro. Um precisa ouvir o outro – talento difícil em tempos tão apressados e egoicos. Parece que o que outro vai dizer nada tem a acrescentar em meu repertório. Ledo engano. Aprendemos o tempo todo com outras pessoas.
Em uma peça de teatro, cada personagem é fundamental para que a arte cumpra o seu papel. Em um jogo de basquete, também. Em uma agência de viagens ou em um banco ou em uma construção, cada um tem sua função.
Deve nos preocupar o excesso de diálogo com os meios tecnológicos e a ausência das prosas nas relações humanas. Tempos sombrios estes em que nos silenciamos diante do outro. Não praticamos o silêncio da atenção, da escuta, mas o silêncio do aborrecimento, da impaciência, da arrogância. 
Riko Stotz – O jardineiro


O escritor Carlos Drummond de Andrade narra a história de um jardineiro, muito amável, que cuidava com amor e extrema dedicação das flores. Conversava com elas, contava história, ouvia lamúrias de algumas, guardava confidências de outras. Mas tinha problemas com o girassol, que não ia muito com a cara do jardineiro. Mas mesmo assim, ele não deixava de regá-lo e de afofar-lhe a terra. O patrão, incomodado com o longo tempo que o funcionário dedicava às plantas, resolveu demiti-lo. Moral da história:
"Depois que o jardineiro saiu, as flores ficaram tristes e censuravam-se porque não tinham induzido o girassol a mudar de atitude. A mais triste de todas era o girassol, que não se conformava com a ausência do homem."

Depois que o jardineiro saiu, as flores ficaram tristes e censuravam-se porque não tinham induzido o girassol a mudar de atitude. A mais triste de todas era o girassol, que não se conformava com a ausência do homem. "Você o tratava mal, agora está arrependido?" "Não, respondeu, estou triste porque agora não posso tratá-lo mal. É minha maneira de amar, ele sabia disso, e gostava". (Maneira de Amar – C.D. de Andrade)
A delicada metáfora drummondiana robustece nossa certeza de que as relações ficam muito mais saudáveis quando estamos dispostos a conviver sem a petulância de saber mais que o outro. É com o outro que tenho a nobre missão de caminhar de mãos dadas para não me perder neste mundo tão grande. 
Por: Gabriel Chalita (fonte: Diário de S. Paulo) | Data: 15/03/2015



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