Fui ao restaurante Tordesilhas no início desta semana. Comida maravilhosa. Brasileira. Gostos e temperos que valorizam a riqueza de nossa terra. Tudo muito caprichado. Atendimento carinhoso, gentil. A decoração é criativa. E há, na parede, um texto que fala sobre os 10 mandamentos da cozinha brasileira. O mandamento derradeiro e universal é este: bom apetite! Porque o mal nunca entra pela boca, o mal é o que sai da boca do homem.
Enquanto comia, pensava no que lia. E partilhava com os meus amigos. Como é bom almoçar com amigos. E prosear. E agradecer o privilégio dos sabores que nos alimentam. E celebrar a vida. No cotidiano. Nas ações que fazemos com que sejam especiais. Falamos sobre os dizeres. A inspiração está no Evangelho. O problema é o que sai de nossa boca. É a força do que falamos. É o estrago que somos capazes de causar aos outros. Por quê? Por que nos interessarmos tanto pela vida dos outros? Se fosse o interesse generoso da partilha, da ajuda amiga, da compreensão de que é melhor caminharmos juntos, seria bom. Mas não é. Estragamos a vida dos outros com o que sai da nossa boca. Desnecessariamente.
Quando já nos preparávamos para sair, encontramos a chef Mara Salles. Que mulher incrível! Falamos do sabor de sua comida. Ela agradeceu e começou a conversar sobre outros sabores. Sobre projetos sociais. De inclusão. De acolhimento de pessoas que, por alguma razão, ficaram à margem. O prazer de cozinhar talvez seja um bom aliado para recuperá-los para a vida. Sorria, enquanto dizia do sabor de viver, de fazer o que gosta, e de ajudar as pessoas. A prosa foi breve, mas revigorante. Saímos dizendo que nem tudo o que sai da boca do homem prejudica o homem. Há palavras de esperança. Há textos que narram contextos de gente que faz o bem. Almoço bom aquele. Depois do sabor da boa comida brasileira, o prazer de ouvir uma brasileira que não desiste de fazer o bem. E bem feito.
Por: Gabriel Chalita (fonte: Diário de S. Paulo) | Data: 28/08/2015
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