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quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Papa fala no Congresso dos EUA e pede fim de hostilidade aos imigrantes

Pontífice também pediu a abolição global da pena de morte.
Ele ainda falou de fundamentalismo religioso e mudança climática.


Além da importância política, país de Obama tem hoje a 4ª maior população de súditos de Francisco (Foto: Tony Gentile/AP)

Papa Francisco faz discurso no Congresso dos EUA (Foto: Carolyn Kaster/AP)

Papa Francisco participa de encontro com o presidente da Câmara dos EUA, John Boehner, antes de seu discurso no Congresso americano nesta quinta-feira (24) (Foto: Bill Clark/Reuters)

Michelle Obama apresenta os cachorros da família Obama ao Papa Francisco durante sua visita à Casa Branca nesta quarta-feira (23) (Foto: L'Osservatore Romano via AP)

Papa visita centro beneficente e se reúne para almoço com cerca de 200 pessoas desabrigadas (Foto: Reprodução/ Instagram/ washarchdiocese)
Adultos e crianças desabrigados esperam visita do Papa a centro beneficente nesta quinta-feira (24) em Washington (Foto: REUTERS/Brendan Smialowski/Pool)
O Papa Francisco realizou na manhã desta quinta-feira (24) o primeiro discurso de um papa no Congresso dos Estados Unidos, como parte de sua agenda durante sua primeira visita ao país. Em seu discurso, o Papa pediu o fim da "mentalidade de hostilidade" contra os imigrantes, falou sobre o fundamentalismo religioso, a necessidade de proteger as pessoas mais vulneráveis e a luta pela igualdade na sociedade norte-americana.
O pontífice também voltou a tocar no tema da mudança climática, que divide republicanos e democratas nos EUA. Para ele, o Congresso dos EUA tem um importante papel a cumprir na luta contra os danos ambientais causados pela atividade humana, e pediu "ações valentes" neste sentido. “Estou convencido de que podemos fazer a diferença e não tenho nenhuma dúvida de que os EUA e este Congresso devem ter um papel importante”.
Em outro assunto polêmico, o Papa pediu a abolição global da pena de morte. "Estou convencido de que este é o melhor modo, já que toda vida é sagrada", disse. Em referência ao aborto e à eutanásia, ele afirmou que a humanidade deve “proteger e defender a vida humana em todos os estágios de seu desenvolvimento.”
Francisco se disse ainda preocupado com o futuro dos casamentos e famílias, visto que “relações fundamentais estão sendo questionadas”.

"A família foi essencial para construir esse país. E merece todo nosso apoio e encorajamento. Mesmo assim, não oculto minhas preocupações quanto à família, que está ameaçada, talvez como nunca antes, do lado de dentro e do lado de fora", afirmou, segundo a agência France Presse.

O pontífice iniciou seu discurso falando diretamente aos parlamentares, sobre seu dever em defender e preservar a dignidade da população, e estimular o crescimento de todos os membros da sociedade, principalmente aqueles mais vulneráveis.
"Eu gostaria não apenas de falar com vocês parlamentares, mas através de vocês, com toda a população dos EUA. Queria esta oportunidade para dialogar com milhares de mulheres e homens. Eles não estão apenas pagando seus impostos, mas em seu próprio modo sustentam a vida em sociedade", disse Francisco.
Ele pediu que o Congresso dê esperança para as pessoas que estão “presas no ciclo da pobreza”.
Imigração
Após falar sobre o tema da imigração em outras ocasiões durante sua visita aos EUA, o Papa tocou novamente no assunto, lembrando que ele é filho de imigrantes, assim como alguns dos presentes no Congresso. "Não devemos repetir os pecados e os erros do passado. Devemos resolver viver agora de maneira tão nobre e justa quanto possível, enquanto educamos novas gerações."
Ele pediu que o Congresso rejeite a “mentalidade de hostilidade” em relação aos imigrantes e reconheça que as pessoas que querem se mudar para os Estados Unidos são pessoas que estão tentando melhorar suas vidas e as de suas famílias.
“Construir uma nação pede que reconheçamos que nós precisamos nos relacionar constantemente com os outros, rejeitando uma mentalidade de hostilidade para poder adotar uma de subsidiariedade recíproca”, disse Francisco.
Para ele, a crise dos refugiados é algo sem precedentes desde a Segunda Guerra Mundial, e o drama no continente americano representa “grandes desafios e decisões difíceis”. Para ele, é necessário não deixar-se intimidar por números, e adotar uma reposta que os trate de um modo sempre “humano, justo e fraternal”.
Francisco pediu vigilância contra qualquer tipo de fundamentalismo, e advertiu que “nenhuma religião é imune às diversas formas de aberração individual ou extremismo religioso”. “Combater a violência realizada em nome de uma religião, uma ideologia, ou um sistema econômico e, ao mesmo tempo, proteger a liberdade das religiões, das ideias, e das pessoas requer um delicado equilíbrio sobre o qual temos que trabalhar”, afirmou.
O Papa assinalou que este ano marca o 120º aniversário do assassinato do presidente Abraham Lincoln, o “guardião da liberdade”, e também lembrou da marcha de Martin Luther King saindo de Selma realizada há 50 anos, como parte de seu sonho de que os afro-americanos tivessem direitos na América. “Esse sonho continua a nos inspirar, e estou feliz de saber que a América continua a ser para muitos a ‘terra dos sonhos’.”
Participaram da sessão conjunta do Congresso diversas autoridades, como os responsáveis do Supremo Tribunal, os presidentes do Senado e da Câmara dos Representantes, o Secretário de Estado e o decano do Corpo Diplomático.
Desabrigados
Após o discurso desta manhã no Congresso, o Papa apareceu no balcão e saudou a multidão que o aguardava em frente ao prédio. Ele disse estar feliz por ver crianças e pediu, como costuma fazer, para que os fieis rezem por ele.
"Senhor, abençoe este povo, abençoe a cada um deles, abençoe a suas famílias, dê a eles o que mais necessitam, e peço a vocês o favor de rezarem por mim", afirmou. "Ao que não creem ou não podem rezar, que me desejem coisas boas", acrescentou, para delírio da multidão.
Mais tarde, durante visita à igreja de Saint Patrick, o Papa evocou o problema da falta de moradia. Ele lembrou a passagem bíblica que mostra a sagrada família também não tinha abrigo quando Maria estava prestes a dar à luz. “Como o filho de Deus não tem casa?, se perguntava José. Como José vocês podem se perguntar porque estamos sem casa?”, observou. Ele fez um apelo aos católicos para abrirem o coração.

Em seguida, o Papa se reuniu com cerca de 200 pessoas sem-teto no centro beneficente desta igreja, que oferece alimento, assistência médica e ajuda para arrumar emprego. Francisco disse aos presentes, que eles lembravam-no de "uma pessoa de que gosto, que é e foi muito importante ao longo da minha vida (...) Vocês me lembram de São José".
"Não encontramos nenhum tipo de justificativa social, moral, ou do tipo que for, para aceitar a falta de alojamento. São situações injustas, mas sabemos que Deus as está sofrendo conosco, está vivendo-as ao nosso lado. Não nos deixa sozinhos", disse o papa.
O pontífice também buscou consolar o grupo. "Diante de situações injustas, dolorosas, a fé nos traz essa luz que dissipa a escuridão. Assim como José, a fé nos abre a presença silenciosa de Deus em toda vida, em toda pessoa, em toda situação. Ele está presente em cada um de vocês, em cada um de nós".
Depois, convidou-os a rezar com ele e abençoou a refeição de peito de frango desossado e salada de macarrão para o grupo antes de se misturar à multidão, trocando apertos de mão e parando para tirar fotos enquanto admiradores gritavam “Papa! Papa!” em espanhol.
Temas polêmicos
O Papa seguiu para Nova York na tarde desta quinta-feira. Ele chegou aos EUA na terça e participou de diversos compromissos em Washington. Além do evento na Casa Branca,ele passeou de papamóvel pelas ruas de Washington D.C., participou de um encontro com bispos na catedral da cidade ecanonizou um padre espanhol.
Francisco tocou em temas polêmicos durante seus compromissos. Na visita à Casa Branca, além da mudança climática, ele e Obama falaram sobre a aproximação dos EUA com Cuba e da crise migratória e dos refugiados em seus discursos.
No encontro com os bispos, o Papa disse que os crimes de abuso sexual de menores pelos clérigos não devem se repetir jamais. "Eu sei o quanto os fez sofrer o ferimento dos últimos anos, e tenho acompanhado de perto seu generoso esforço para curar as vítimas, consciente de que, quando curamos, também somos curados, e por continuar a trabalhar para garantir que esses crimes não se repitam mais", disse.
Francisco adotou medidas severas contra a pedofilia, mas, nos Estados Unidos, sua decisão de não se reunir com vítimas de abuso sexual decepcionou muitos seguidores, segundo a agência France Presse.
No mesmo discurso, lembrou as origens de imigração de sua família e pediu que os sacerdotes dos EUA acolham os imigrantes latinos "sem medo" em suas igrejas. "Agora há esta grande onda de imigração latina em muitas de suas dioceses. Talvez não seja fácil para vocês lerem suas almas; talvez sejam submetidos à prova por sua diversidade. Em todo o caso, saibam que eles também têm recursos para compartilhar. Portanto, os acolham sem medo", disse o pontífice.










Do G1, em São Paulo

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