O Mundo em Suas Mãos

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domingo, 5 de julho de 2015

Avenida Paulista

O que teria o amor conseguido? Com que dificuldades? 

Você sabe quantas noites eu te procurei,
 nessas ruas onde andei?
 Conta onde passeia hoje esse seu olhar...
 Quantas fronteiras ele já cruzou, 
no mundo inteiro de uma só cidade?

Quando cheguei a São Paulo, vindo do interior, gostava de passar pela Avenida Paulista para contemplar a grandeza da cidade que adotei como minha. Era aluno da PUC, dava aulas em alguns colégios e faculdades e ia me encontrando nas novas tribos da capital. Os teatros, cinemas, museus, restaurantes. O vaivém de pessoas. Arlequinal, como poetizou Mário de Andrade. Pulsante. Gigante.
Lembro que, nessa época, era sucesso nas rádios uma linda composição de Eduardo Gudin, Paulista. Na voz de Vania Bastos ou Leila Pinheiro, eu sentia a cidade em mim:
"Na Paulista os faróis já vão abrir...
 E um milhão de estrelas 
prontas pra invadir, os jardins 
onde a gente aqueceu uma paixão...
 Manhãs frias de abril."
Quando eu passava pela Avenida, sempre imaginava os tempos de ontem, da cidade antiga, de outras pessoas que também ali gastaram sua existência. Dos gritos políticos aos encontros de amor. Caminhantes defendendo a liberdade ou o direito de encontrar alguém para aquecer os sonhos nas "manhãs frias de abril". Eu ficava ressabiado com o mês escolhido para falar do frio. Por que não junho ou julho? Talvez porque o compositor, ou alguém que o inspirou, tivesse alguma história habitada no mês de abril. Eu nasci em abril.
Segue a canção:
"
Se a avenida exilou seus casarões,
 quem reconstruiria nossas ilusões?
 Me lembrei de contar pra você, nessa canção,
 que o amor conseguiu..."


O que teria o amor conseguido? Com que dificuldades? 

Você sabe quantas noites eu te procurei,
 nessas ruas onde andei?
 Conta onde passeia hoje esse seu olhar...
 Quantas fronteiras ele já cruzou, 
no mundo inteiro de uma só cidade?





São Paulo não é apenas uma cidade. O mundo inteiro passa por aqui. Todos os dias é dia de lágrimas. Todos os dias é dia de sorriso. Nascem e morrem pessoas. Chegadas e partidas. Celebrações e lamentos. Cruzando os  quarteirões e rasgando os céus na cidade que tem a vocação para ser de todos.
 "No domingo passado, estava na Paulista, como tantos 
outros, celebrando o povo que tomava posse da avenida. 
Na ciclovia, nas calçadas, nas ruas proibidas aos carros, os 
faróis abriam e fechavam sem impedir que a Paulista fosse 
de todos."


Em que cidade sonhamos morar? Que futuros nascem nas nossas aspirações de hoje? Como será a convivência amanhã? Conseguiremos diminuir o fosso que separa a cidade rica da cidade pobre? A que oferece oportunidades da que não oferece? A que dá condições de que os seus protagonizem histórias de sucesso e a que fecha os olhos à dor dos outros que não encontraram o caminho porque ninguém a eles estendeu as mãos?
No domingo, estavam todos na Paulista. Sem desperdícios de reparações entre as tristes divisões da nossa cidade. Salve Castro Alves: "A praça é do povo como o céu é do condor". De todo o povo. A Paulista é também do povo. Símbolo da pujança e dos movimentos que não param em nossa cidade. Coração que acolhe os choros e ri os risos. Uma avenida que tem sentimentos.

"Se os seus sonhos imigraram sem deixar
nem pedra sobre pedra pra poder lembrar...
 Dou razão, é difícil hospedar no coração
 sentimentos assim."
Sou grato por viver em São Paulo e por ver que a cidade, embora com enormes problemas, é maior do que eles todos. Por sua gente valente. De razão e de sentimentos.
Ocupemos, civilizadamente, a Paulista como símbolo de tempos que ousamos sonhar. Uma cidade melhor. Mais educada e mais acolhedora. Nos concretos que ousamos construir, há metáforas abstratas de sentimentos que somos capazes de sentir.
Que cada um faça a sua parte. A cidade é de todos. Que os faróis da gentileza, do respeito e da generosidade estejam sempre abertos. Quem ganha somos todos nós.
Por: Gabriel Chalita (fonte: Diário de S. Paulo) | Data: 05/07/2015

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