Dia desses, ouvi uma mãe explicando ao filho que “homem não chora”. O menino de três ou quatro anos fazia de tudo para não chorar, mas não conseguia. Passava os bracinhos miúdos sobre os olhos que insistiam em gotejar, tentava limpar o nariz, que também participava da dor, e nada. E a mãe agia com mais vigor, alertando : “você é um homem. E homem não chora!”.
Quem será que criou essa teoria? Quem separou o gênero humano entre aqueles que podem e aqueles que não podem chorar? Homem chora, sim! Homem é razão e emoção como a mulher. Homem chora de dor, de saudade, de felicidade. Homem chora as dores da alma, é um direito inegável a qualquer ser humano. Jesus chorou diante do sofrimento da família de Lázaro. Sabia que tinha o poder de ressuscitá-lo, mas a situação daquelas irmãs inconsoláveis diante da perda o emocionou, e ele chorou. Uniu-se à nossa humanidade e chorou.
Na educação dos filhos, não poucas vezes, as famílias cobram de uma criança a postura de um adulto. Criança é criança. Tem inseguranças próprias de criança. O adulto tem as suas. Os medos talvez sejam diferentes. Mas todos têm medo. Meninas e meninos também têm diferenças como as mulheres e os homens. Mas têm muito em comum: choram, emocionam-se, amam. É para isso que fomos criados.
Fiquei imaginando por que aquele menino estava chorando. E fiquei pensando nos erros que algumas mães e pais cometem quando querem transformar os seus filhos em heróis. Os pais não são heróis. Por que os filhos haveriam de ser?
Vez ou outra, é necessário sentar-se diante de um filho e chorar com ele. Pai ou mãe. Contar alguma história das tantas pedras que surgiram no seu caminho. Mostrar os fracassos e as possibilidades de superação. Porque os seus filhos passarão por histórias de fracassos, também. Todos passam. E o problema não será a queda, será a ausência da aprendizagem de que quem está caído pode se levantar. E pode chorar quando da queda. E pode chorar quando da superação da queda.
Meu pai chorava muito de emoção. Ele se foi. Minha mãe ainda chora. E eu choro também. De dor, de tristeza, de alegria. Em casa, nunca tivemos constrangimento em chorar. Nas partidas ou nas chegadas. Como é bom viver sem máscaras. Como é bom ter uma família que nos ajude a viver sem ter medo das nossas emoções. Na minha casa, sempre fomos muito unidos. Em todas as situações. Meus pais me ensinaram a ter compromisso com a verdade. Não havia mentira entre nós. Se algo de ruim acontecesse, chorávamos todos juntos.
É essa a referência de “família” que permeia minha vida, minhas ações. Minha força. Meus sentimentos. Talvez por isso a reação daquela mãe tenha me causado estranhamento. Talvez por isso tenha escrito este artigo. Precisamos nos respeitar. Somos todos passíveis de erros. Quem determinou que precisamos ser perfeitos e fortes o tempo todo? Fraquejar é humano. Chorar, também. Vamos nos permitir – como defende Clarice Lispector. Afinal, foi-nos dado um dom. O dom das lágrimas.
Por: Gabriel Chalita (fonte: Diário de S. Paulo) | Data: 19/07/2015
Dia desses, ouvi uma mãe explicando ao filho que “homem não chora”. O menino de três ou quatro anos fazia de tudo para não chorar, mas não conseguia. Passava os bracinhos miúdos sobre os olhos que insistiam em gotejar, tentava limpar o nariz, que também participava da dor, e nada. E a mãe agia com mais vigor, alertando : “você é um homem. E homem não chora!”.
Quem será que criou essa teoria? Quem separou o gênero humano entre aqueles que podem e aqueles que não podem chorar? Homem chora, sim! Homem é razão e emoção como a mulher. Homem chora de dor, de saudade, de felicidade. Homem chora as dores da alma, é um direito inegável a qualquer ser humano. Jesus chorou diante do sofrimento da família de Lázaro. Sabia que tinha o poder de ressuscitá-lo, mas a situação daquelas irmãs inconsoláveis diante da perda o emocionou, e ele chorou. Uniu-se à nossa humanidade e chorou.
Na educação dos filhos, não poucas vezes, as famílias cobram de uma criança a postura de um adulto. Criança é criança. Tem inseguranças próprias de criança. O adulto tem as suas. Os medos talvez sejam diferentes. Mas todos têm medo. Meninas e meninos também têm diferenças como as mulheres e os homens. Mas têm muito em comum: choram, emocionam-se, amam. É para isso que fomos criados.
Fiquei imaginando por que aquele menino estava chorando. E fiquei pensando nos erros que algumas mães e pais cometem quando querem transformar os seus filhos em heróis. Os pais não são heróis. Por que os filhos haveriam de ser?
Vez ou outra, é necessário sentar-se diante de um filho e chorar com ele. Pai ou mãe. Contar alguma história das tantas pedras que surgiram no seu caminho. Mostrar os fracassos e as possibilidades de superação. Porque os seus filhos passarão por histórias de fracassos, também. Todos passam. E o problema não será a queda, será a ausência da aprendizagem de que quem está caído pode se levantar. E pode chorar quando da queda. E pode chorar quando da superação da queda.
Meu pai chorava muito de emoção. Ele se foi. Minha mãe ainda chora. E eu choro também. De dor, de tristeza, de alegria. Em casa, nunca tivemos constrangimento em chorar. Nas partidas ou nas chegadas. Como é bom viver sem máscaras. Como é bom ter uma família que nos ajude a viver sem ter medo das nossas emoções. Na minha casa, sempre fomos muito unidos. Em todas as situações. Meus pais me ensinaram a ter compromisso com a verdade. Não havia mentira entre nós. Se algo de ruim acontecesse, chorávamos todos juntos.
É essa a referência de “família” que permeia minha vida, minhas ações. Minha força. Meus sentimentos. Talvez por isso a reação daquela mãe tenha me causado estranhamento. Talvez por isso tenha escrito este artigo. Precisamos nos respeitar. Somos todos passíveis de erros. Quem determinou que precisamos ser perfeitos e fortes o tempo todo? Fraquejar é humano. Chorar, também. Vamos nos permitir – como defende Clarice Lispector. Afinal, foi-nos dado um dom. O dom das lágrimas.
Por: Gabriel Chalita (fonte: Diário de S. Paulo) | Data: 19/07/2015
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